quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Há Cem Anos!


Santarém viu desfraldar a bandeira Verde e Rubra…



Não, não estávamos, ainda, no mês de Outubro de 1910; em Santarém não se antecipara a proclamação da República! Mas, há cem anos, Santarém viu desfraldar a bandeira verde-rubra.

No mês de Novembro de 1909, o jornal O Debate referia-se à realização de um Sarau literário-musical, comemorativo da inauguração de uma bandeira, realizado no dia 14, no Centro Eleitoral Republicano de Santarém. Artur Meira, presidente da Direcção, expos os motivos daquela festa, a tuna tocou o “hino”, José Avelino de Sousa recitou versos de Guerra Junqueiro, seguindo-se a execução de “dois números” musicais.

A notícia não descrevia a bandeira… A intervenção de Manuel António das Neves, presidente da Assembleia Geral do Centro Republicano que dissertou sobre “a significação da bandeira, descreveu o papel que esta tem desempenhado na evolução dos povos”, incitando os presentes a dedicar-se à causa republicana para que essa bandeira pudesse vir “a flutuar em todas as torres de Portugal como símbolo da República Portuguesa”, não explicava o aspecto da bandeira.

Que símbolo seria esse que Manuel António das Neves venerava? Que cores se apresentariam? Que bandeira seria essa que dez meses antes da proclamação da República, já se empunhava nas mãos dos republicanos de Santarém? Tais questões assomavam ao nosso pensamento à medida que percorríamos com os olhos as linhas da notícia.



As Duas Cores…

Mas, na festa não faltou um poema de José Avelino de Sousa, transcrito na totalidade no jornal, que nos permitiu esclarecer as nossas dúvidas. Atente-se às palavras do título “Duas Cores…” e dos versos: “Vermelho – a cor do sangue dos heróis/ (…) Vermelha, a Ideia Nova, triunfal;/ Vermelhos são os gritos de revolta/ que abalam hoje o seio de Portugal./ (…) Verde a cor das vagas alterosas/ Dos prados em flor, dos laranjais/ (…) Eu vejo muito mais do que uma bandeira/ (…) Eu vejo nessas dobras ondeantes/ Em lúcida fraterna comunhão/ A imagem da própria Revolução/ (…) E a doce Esperança - esplêndido luzeiro/ Que inunda de vigor nossos sentidos/ Ou seja para transpor um cativeiro/ Para dar agasalho aos desvalidos/ Ou seja p´ra salvar um povo inteiro,/ das garras de farsantes e de bandidos”. Esta selecção de versos revela-nos que as “Duas Cores” da bandeira eram o vermelho e o verde e, ainda, a sua simbologia: o vermelho significava a cor do sangue dos heróis, a cor da revolta e da própria Revolução, aliás era a cor atribuída à República que se exprime aqui como a Ideia Nova. O verde era a cor da esperança, a cor da salvação de “um povo inteiro”.

O mais interessante desta notícia foi percebermos que a bandeira da República Portuguesa já estava praticamente escolhida, mesmo antes da República e da polémica que se seguiu à implantação da República e o seu significado, que hoje persiste em parte, já fazia parte do ideário dos republicanos ou, pelo menos, de alguns republicanos.



O Vermelho e o Verde

Ora a bandeira republicana, para a qual foi constituída uma comissão, veio a deter estas cores e pela ordem inversa, tendo ficado o verde junto à tralha, seguido do vermelho.

Perceber a origem da utilização destas cores e o seu significado não foi tarefa fácil, para quem não se detém nas explicações oficiais que todos conhecem e que, em grande parte, coincidem com os versos transcritos acima.

As duas cores foram utilizadas em estandartes ou panos em determinadas ocasiões, durante o século XIX. Amadeu Carvalho Homem reporta a primeira utilização das cores verde e vermelha a 1873 (?) quando os redactores do jornal O Rebate, órgão do Centro Republicano Federal, de Lisboa, organizaram no Teatro Príncipe Real uma récita onde, se ouviu a Marselhesa enquanto subia ao palco uma criança “em cujos trajes e bandeira, empunhada galhardamente, preponderavam as cores verde e vermelha” .

Entretanto estas foram também as cores das faixas de pano que envolveram a estátua de Camões, por ocasião das comemorações do Tricentenário de Camões, em 1880 e, foram, também as cores da bandeira do 31 de Janeiro de 1891.

Mais ainda, essas foram as cores da bandeira escolhida pela Carbonária, reorganizada por Luz de Almeida em 1907 e, também, daquelas que se desdobraram na Rotunda de Lisboa, no dia da vitória da revolução de 5 de Outubro.

(...)
Luísa Teixeira Barbosa
(Professora de HGP, Escola EB 2,3 de Alexandre Herculano)
Correio do Ribatejo, 20 de Novembro de 2009

1 comentário:

  1. Bernardo Esteves nº 5 6G24 de janeiro de 2010 às 14:23

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